Artur
Gomes
O Homem com A Flor Na Boca
*
Poética, política e memória
Escrever
prefácio para um livro de Artur Gomes é um desafio prazeroso. Desafiante é
mergulhar no universo imagético e político que sempre compôs sua poética.
Este O Homem Com A Flor Na Boca : Deus Não Joga
Dados acrescenta o substrato memorialístico ao seu repertório
formando a tríade que sustenta o livro temática e formalmente. Meu primeiro
contato com a poesia de Artur se deu nos anos 80 por intermédio de seu
livro Suor & Cio, obra cuja temática estava em
consonância com as reflexões suscitadas pelas “comemorações” do
centenário da Abolição da Escravatura em 1988. A partir daí, acompanhei suas
criações tanto impressas quanto performáticas, pois Artur não
é poeta apenas de livros e silêncios das salas de estares, livrarias e
bibliotecas, mas também dos bares, ruas e praças que são do poeta como o céu é
do condor.
Poucos poetas contemporâneos expressam tão
bem as principais bandeiras do Modernismo de 22 quanto esse vate pós-moderno.
Sua poesia é política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica e sobretudo
intertextual, além de dotada de uma brasilidade corrosiva, avessa ao
nacionalismo acrítico que se tem espraiado pela ex-terra de “Santa cruz”.
Neste livro estão todas essas marcas do poeta
às quais acrescento o caráter memorialístico. Nele, Artur não apenas rememora
antigos poemas por meio de alusões, paráfrases e paródias como traz para seus
versos passagens assumidamente biográficas, se apropriando, em alguns momentos,
do gênero diário.
Estão contidos nessas memórias seus vários
heterônimos: Gigi Mocidade, Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè, Federika
Bezerra, Federika Lispector. Diferente do que ocorre com o poeta português
Fernando Pessoa, a heteronímia em Artur não se manifesta menos na autoria do
que no tecido ficcional. Suas diferentes personas emergem dos poemas para a
realidade das redes sociais, interagem entre si, com o poeta e os leitores.
É Gigi Mocidade, por exemplo, que carrega a
bandeira do espírito subversivo com seu grito “Irreverência ou morte”, já
nas primeiras páginas do livro, e a epígrafe de Federico Baudelaire “escrevo
para não morrer antes da morte” anuncia a intenção memorialística.
Sócrates, no seu diálogo com Fedro na obra de Platão, argumenta que a escrita
seria a morte da memória, mas o que seria de todo o repertório literário não
fosse essa invenção humana? Quais mentes suportariam tantos signos produtores
de imagens cujos sentidos transcendem às vezes a razão? A escrita não se tornou
a morte da memória, mas impossibilitou a morte dos poetas eternizados nas
páginas dos livros e memórias dos leitores.
poema 10
meus caninos
já foram místicos
simbolistas
sócio políticos
sensuais eróticos
mordendo alguma
história
agora estão famintos
cravados na memória
Nesses oito versos, o autor nos apresenta metalinguisticamente seu percurso poético até este livro que não é uma obra dedicada ao passado. O presente político do Brasil (des) norteia o poeta que não deixa de atacar com sua lira de peçonha os problemas que nunca deixaram de afligir estas paragens desde o suposto grito de Cabral.
poema
12
tem algo de errado
nessas estatísticas
de mortes
dessa pandemia
multipliquem
60.000 X 10
e ainda não vai ser
exato
o número de cadáveres
empilhados nos campos
de concentração
que dá um nome
ao país
que ainda nem era uma nação
A
verve surrealista do poeta se manifesta principalmente nos poemas narrativos
protagonizados por personagens intertextuais como “macabea” (alusão evidente à
conhecida protagonista de A hora da estrela de Clarice
Lispector) e alter egos – lady gumes – parodísticos do próprio autor.
Em FULINAIMAGEM 14 o tom de diário se instaura com inscrição de data do acontecimento rememorado e transborda na escrita de si em que se revela o papel que a poesia e o teatro desempenham na escritura de seu trajeto como autor: “a minha relação poesia teatro poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena a necessidade do corpo como expressão”. Artur Gomes, este homem com a flor na boca, anda a espalhar o veneno agridoce de sua poesia, numa obra em que não há fronteiras entre o artista, o cidadão, o personagem, o eu poético, a obra. Seu livro não é um objeto, mas um produto interno e nada bruto. A obra é sempre muito maior que o livro, pois este, matéria assim como o homem, finda. A obra, esse totem que se pode cultuar no altar da memória, está sempre presente. E é disso que o poeta fala: do tempo presente, do homem presente, da vida presente. Parafraseando Drummond, com O Homem Com A Flor Na Boca, “não nos afastemos, não nos afastemos muito”, vamos de mãos dadas com a poesia de Artur.
Adriano Carlos Moura
Professor de Literatura – IFFluminense, Campos dos Goytacazes-RJ – Poeta, Ator, Dramaturgo
A Rosa Vermelha do Povo
para Drummond, Darcy Ribeiro, Brizola e Oscar Niemayer in Memória
a rosa de Hiroshima ainda fala
a rosa de Hiroshima ainda cala
Frida e seus cabelos de aço
Picasso pintou Guernica
e quando os generais de Franco
lhe perguntaram:
- foi você quem fez isso:?
ele prontamente respondeu
- não, foram vocês que fizeram.
Cartola um dia me disse
que as rosas não falam
simplesmente as rosas exalam
o perfume que roubam de ti
Agora trago a Rosa Vermelha do Povo
para clarear esse Templo escuro
quem poderá viver nesse presente?
quem poderá prever nosso futuro?
nem Zeus nem o diabo que os carregue
eu quero um reggae um arte lata
a vida é muito cara nada barata
eu sou Drummundo Curumin - no fundo
Tupã Rebelde não pede arrego
poesia é pra tirar o teu conforto
poesia é pra bagunçar o teu sossego
educação gramatical
ela tem um travessão
atravessado
na frente da palavra quero
me diz: espera
não por falta de desejo
tenho medo de dois pontos:
os seus olhos os seus beijos
pra onde você quer me levar
de tudo que a exclamação possa engendrar
respondo:
coloco vírgulas ponto e vírgulas
reticências qualquer outro sinal
abro parênteses
(os meus poemas nunca vão ter ponto final)
Bolero Blue
beber desse conhac em minha boca
para matar a febre nas entranhas
entre dentes - indecente é a forma
que te como bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é que a fome desse beijo
furta qualquer palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai
Teatro do Absurdo
o quarteto da hipotenusa
versus o quadrado do quarteto
da hipotenusa a musa no quadrado
do retrato fosse apenas fotografia
mas não sendo hipotenusa
somente musa algaravia
uma palavra mais que estrada
sendo musa multivia
me levou nessa jornada
para fora da bahia
todos os santos mar aberto
no abismo a fantasia
de querer musa entretanto
muito mais que poesia
tem cheiro de poesia
relâmpagos de Iansã
incêndio no meio dia
Netuno em polvorosa
me disse em verso e prosa
que ela vem com o frescor da maresia
e eu serei o seu Ogum
anjo da guarda e companhia
hoje mesmo distante
essa preamar me incendeia
ondas espumas explodem na areia
tempestades trovoadas ventania
e nem sei se estando perto
calmaria
tirar leite das pedras
plantar flores no deserto
talvez seja esta a minha sina
colher a lírica
na argamassa do concreto
metáfora
meta dentro
meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
6 outubro - 2022
a mulher dos sonhos
voltou ontem
sedenta faminta insaciável
esgotou-me
à última gota
mesmo vazio
me senti um tanto cheio
nem foi delírio loucura
porque vi no meu e-mail
o nome da criatura
Em 1995 no Centro Cultural Maria Antônia, na USP,
em cia da minha querida amiga Silvia Passareli, assisti uma encenação de Cacá
de Carvalho, com texto de Pirandello que me pegou da medula ao osso. A plateia
era de 40 pessoas apenas e Cacá circulava entre nós com a sua energia pulsante
magnética. O texto era um fragmento de uma trilogia que ele deu o nome de O
Homem Com A Flor Na Boca. E a ele, Cacá de Carvalho, dedicamos este livro.
chamaram-me atrevido
o fonema entrou pelos ouvidos
como um raio de Iansã
Eva nem percebeu
a serpente no espelho
a mordida na Maçã
Deus não joga dados
Mas
a gente lança
tenta
–
em
arte tudo se inventa
Eu
tenho flores
com a língua atravessada em cada canto da boca
Dê Líricas
bebo teus olhos atlânticos
e tua voz portuguesa
como quem bebe no Tejo
saudades de Lisboa
caminho com os teus passos
em direção ao poema do desassossego
Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa
ressignificar eis o verbo
no poema do absinto
o sentido mais concreto
ou mesmo o abstrato
na argamassa do absurdo
Baudeléricas Bordelíricas
o poema um beijo em tua boca bruna tem um B entranhado entre as coxas a pele das amoras gemem quando venta forte em tuas fendas do hoje comi duas nessa manhã incendiária quando vim da cacomanga trouxe nos bolsos da calça remendada linha carretel cola de trigo cerol bambu papel de pipa pique bandeira pique esconde jabuti preá da índia pés de abóboras replantáveis o pé de abacate ainda não nasceu isadora chegou ontem 30 de março numa tarde outono à sol aberto noite gelada frio na medula maya ainda escreve sobre depressão no tempo folks may abriu as asas pra malásia e a outra mora do outro lado em outra terra rio grande muito longe tenho sede
a flor da pele
ainda sangra
quixaba uma palavra estranha
assim como katchup guanabara guaxindiba
guarapari lembra-me índio capixaba
goiaba carne vermelha
o corpo nu diante do espelho
página do livro onde grafitei
o couro cru & carne viva
alga marinha nascida em mar de angra
a flor da pele ainda sangra
como último beijo mordido na boca
sem
sinal de despedida
com os dentes cravados na memória
tontas vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7 alegria dos noves fora nada tudo é baudelérico federico me dizia leonardo fez 80 afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala já estava dentro da tipografia
franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linha de pescar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo um desenredo
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus brinquedos
II
costuro arco-íris
com linhas de bordar
teus olhos d´água
III
pego na enxada diariamente
para capinar o quintal
da estação três cinco três
literalmente
não é metáfora
para lamber cio da terra
como na canção que Chico fez
IV
a poesia as vezes me vem da fala
outras de vozes absurdas
na travessia cantei pontos de Jongo
Folias de Reis Festas Juninas
Folguedos de São João
despachos de Macumba
para me defender do capataz
pulei fogueira em brasa
comi o milho assado
nos tempos do nunca mais
nunca vivi porto seguro
na minha praia não tem cais
escrevo como falo aprendi com os
ancestrais
V
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
A mulher dos sonhos
ela ainda guarda na boca este poema
entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela
fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda
não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de
fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas em entre
linhas salta das metáforas por entre portas e janelas para o quintal do
agora
arde em mim
um rio
de palavras
corpo larvas erupção
mar de fogo
vulcão
no romance do Poema
Mário Faustino traçou o seu destino
FederikaLispector
havia ali
o voo
em que Faustino
se dissolveu
no ar
tornou-se
fausto
anjo
aéreo
Herbert Valente de Oliveira
Irreverência ou
Morte!
Gigi Mocidade
escrevo para não
morrer antes da morte
Federico Baudelaire
o poema é um lance
de dados
mas não fugirá ao acaso
Stéphane Mallarmé
linguagem toda viagem
imagens sempre me levam a viagens impensadas fotografias me levam a grafias outras imagens recriadas escrevo não como Manuel Bandeira para não morrer mas como Federico Baudelaire para não morrer antes da morte. ontem o sonho me trouxe ela de volta leve como espuma quando beija a pele da areia. muitas vezes imagens me levam a viajar - como deve ser escrever para não enlouquecer ¿ muitas vezes algas que ela traz no mar da boca desce abaixo do umbigo e se encaixa entre as coxas encharca a língua de saliva e me lembra algum despacho Olga Savary quando me diz que mar é o nome do seu macho.
poema
o poema pode ser um beijo em tua boca a orelha de Van Gog bandeirinhas de Volpi os rabiscos de Miró o assassinato de Lorca o poema pode ser o que vai o que não fica Lupicínio na Mangueira Noel Rosa na Portela uma jangada de velas um parangolé do Oiticica o poema pode ser os meus músculos de ossos a minha pele de sangue a morte ancestral em cada mangue e os negros nervos de aço estraçalhados em Martinica o bombardeio de Guernica o cubismo de Picasso
o
Delírio é a Lira do Poeta
se o Poeta não
Delira
sua Lira não Profeta
ando tendo sonhos antropológicos que mais parecem pesadelos e a desgraça é tanta que dói até nos cotovelos
poesia
à
flor da barra
amor à primeira vista
meu livro vermelho de sangue
Ouro Preto na contra capa
a musa morta no mangue
rosa vermelha no altar
desejo paixão fogo brasa
incêndio na minha casa
para nunca mais se apagar
poema 1
o
que você faria
se
soubesse que és musa
de
dois poetas tortos ?
um
visivelmente você sabe
o
outro se oculta
por
trás da lua nova
quando
deita rede na varanda
com sua luz de zinco prata
o
que você faria
se
hoje eu te dissesse
que
o tempo tarda mas não finda
e
que a lua só é nova
porque
se preservou dentro da mata
curuminha ainda ?
poema 2
esse poema mora dentro de ti
entre pele pelos músculos nervos ossos
quase pronto
mas sempre inacabado
não importa o caminho ou se
Cronos
o disperse em curvas de distâncias
ou que o carinho não baste
quando é sede e fome o que
se tem no corpo
*
não sei por quantas vezes
nem sei por quantos anos
um pássaro leva para se abrigar no
ninho
ou para fazer de um fio elétrico
o seu lugar de pouso
quando quase tudo no poema ainda está
por vir
só sei que pode sol e chuva atrapalhar
o canto
mas será sempre no teu colo que ele
um dia irá dormir
A
tua língua atravessa
o
pontal das coxas
quando
o leito do seu rio
transborda
um oceano
carrega
espinhos na carne
como
fossem pétalas de rosa
com
os dentes rasga da musa
- todo pano - e ali mesmo goza
*
A folha de papel em branco sobrevoa a
transparência diante do espelho onde me espreitam dois grandes olhos
feito jabuticabas de um pomar que inda procuro a palavra escrita ainda não dita
de um desejo impuro e a folha branca de papel pousa em tuas mãos como um
pássaro não nascido ainda vindo do futuro.
se sou torto não importa
em cada porta risco um ponto
pra revelar os meus destroços
no alfabeto do desterro
a carnadura dos meus ossos
hoje
o maior desafio
permanecer
Nu cio
ando em alpha
quase beta
meu destino ser poeta
poema
4
meus olhos atravessam
as lentes - o peixe
e caminham em direção a luz
que está do outro lado
o infinito
que me espera com seus
olhos d´água
ela virá com sua boca
de batom marrom vermelho
e eu espero
com minhas 7 línguas
atrás da porta
com o mel e o veneno
a pimenta e o azeite
vamos devorar o peixe
no caldeirão incandescente
em nossas línguas
só flechas - o fogo
a águardente –
poema
10
meus
caninos
já
foram místicos
simbolistas
sócio
políticos
sensuais
eróticos
mordendo
alguma história
agora
estão famintos
cravados
na memória
poema 11
escorre - nus
teus seios
espuma que jorrei
em tua boca
ainda existe algo
entre as coxas
e as costas
algas - água
o sal da língua
que lambeu a tua ostra
poema 12
tem algo de errado
nessas
estatísticas de mortes
dessa
pandemia
multipliquem
60.000 X 10
e
ainda não vai ser exato
o
número de cadáveres
empilhados
nos campos de concentração
que
dá um nome ao país
que
ainda nem era uma nação
poema
13
arranco mais uma pérola
do ventre de hilda triste
na porta da tua casa
meu poema ainda insiste
a menina que matou o tempo
o vento também comia
na lâmina do catavento
pra espantar a maresia
nas ruínas de santa teresa
era domingo de poesia
bateu uma pedra no rock
e nos levou na ventania
poema 14
eram duas brunas
na bruma branca da areia
duas sereias
quando então serei
poeta primeiro
antes de tudo
ou tubro ou nada
quando cantam
em meus ouvidos
e desaparecem sem nenhum vestígio
poema 16
respiro-te enquanto escrevo
teu cheiro trazido pelo vento
vem da carne de manga
que mastiguei cinco minutos
tens o poder de me deixar em alfa
e me levar aos píncaros
nesse estado êxtase
quando estou em transe
quando
alfa é beta
e o luar da tarde são teus olhos raios
quando os meus acerta
poema 17
fiz
um trato com a ironia
o
sarcasmo a poesia
o
bom humor a picardia
para
enfrentar essa tragédia
tenho
de sobra a alegria
e
o que não falta em mim é cobra
visceral antropofagia
tenho
de sobra em minha obra
profanação sagrada orgia
poema 18
nos meus delírios baudeléricos
ou mesmo fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fossem flor de lírios
toco teus pelos flor do mangue
pulsando sangue em teus martírios
penso teu sexo flor de lótus
sagrada flor dos meus delírios
poema
19
a
língua hoje passeia
pelos
martírios de florbela
em
tudo que ela não disse
ou
mesmo exposto não revela
pelas
janelas do corpo
por
todas dores prazeres
no
que ficou por dizeres
no
silêncio quando cala
por
tudo que ainda não cabe
na sensualidade da fala
tantos pratos
e talheres sobre a mesa
onde tudo cabe
desde que não seja lama
desde que não seja Vale
holocausto
quem se alimenta
dessa dor
desse horror
desse holocausto
desse país em ruínas
da exploração dessas minas
defloração desse cabaço
quem avaliza o des(governo
simboliza esse fracasso?
metafórica dialética
quantas teorias terei
para escrever o que falo?
quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?
me esqueço as vezes sobre a mesa
no jantar ou no almoço
garfos facas pratos talheres
me perco sempre
em incertezas
se são onças leoas leopardos tigresas
e não saber se amanhã
vão morrer quantas mulheres
nas fardas da realeza
nessa tragédia social
os 270 mortos
em Brumadinho
mostram que
nesse hospício
há muita lama
no meio do caminho
fake
book
o face detonou
minha família inteira
e lá se foram
os meus amores carnavais
e agora o que é que eu faço
sem as Anas sem as Eras
as Cristinas
Isadoras Micaelas
Vênus Afrodites todas elas
os bem-me-quer dos meu aceiros
e dos meus canaviais
essa rede assim fascista
não comporta
os meus poemas canibais
crise
diante dessa crise tanta
não adianta
fazer o que não deve
no improviso do repente
poeta inteligente
não inventa: escreve
ando
tão
tenso
nesse
tempo
estático
que
não consigo
escrever
tudo que penso
diagnóstico urológico
segundo o urologista
o sangue na urina
transbordou da próstata
sem passar pela bexiga
direto na ureta
e se não fosse tanta dor
juro quem sabe um dia
eu seria um bom poeta
FULINAIMAGEM
mais
breve que
ponteiros de relógios
o
amor roeu os ossos
comeu
a cartilagem
da linguagem dos negócios
minha
vida de cachorro
não
está pra peixe inteligente
tenho
chorado
as mortes que não tive
o morto que ainda vive
tem
gente que aterroriza
minha
pobre paciência
tamanha a indecência
dos
seus discursos de bestas
da sua língua de bosta
FULINAIMAGEM
3
Overdose
Nu Vermelho revisitada*
na linguagem dos 80
o corpo não precisava
de puteiro prostíbulo
bordel
faltasse carne
pra roçar os óvulos
a língua jorrava tinta
no papel
*Overdose Nu Vermelho – poema do livro Couro Cru & Carne Viva - 1987
FULINAIMAGEM 4
muitas vezes a língua pulsa pula para o
outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos
obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes
a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro
FULINAIMAGEM 5
nessa linguagem de
palavras ostras
marisco em minha
língua
espuma
escorre entre tuas
coxas
o mel da
palavra
pluma
gosma dessa
baba enguia
feito fogo queima
o sal
dessa água
impune fosse
espada peixe
flecha ao sol no meio dia
FULINAIMAGEM 6
minha língua
baudelérica
faca de dois gumes
na métrica
morde o outro
gumes na delírica
a minha língua
só fonética
mallarmaica
brazilírica.
minha língua pós
andrátrica
drummundana
cibernética
afrodite na
genética
mata o verme
da quadrilha
bomba de
nêutron energética
assassígna de brazilha
FULINAIMAGEM 7
língua nova não tem
dono pode estar em qualquer boca na minha na tua na dele na dela
morde portas e janelas como se algum dente fosse língua nova está
na casa na areia na argila nesse barro chão batido nas paredes de tijolos nos
telhados de algum palácio assombradado ou mesmo fosse língua nova
está no corpo está na carne está no sangue está nos ossos língua nova é
quando posso catar um caranguejo pra escavar um novo poço
FULINAIMAGEM 8
a língua cospe da boca essa saliva sangue escarro do beijo que me foi roubado de outras bocas bêbadas desses dias inglórios descem cascatas de trovões anunciam tempestades o sal amargo de algum ventre exposto as sevícias da barbárie nas ruínas dos castelos entulhos dos palácios esqueletos carcomidos por longos séculos de ócio
FULINAIMAGEM 9
rasgo o véu na membrana em tua íris espinho minha língua cavalo no galope nesse pasto de quimeras era foice faca e vieste de outra Hera fosse febre fértil fumo nas artérias fosse sangue venenoso em minhas veias óxidas rios de carbono e chumbo lama mineral nos restos dos impérios que um rei tirano trouxe
FULINAIMAGEM 10
a voragem da
linguagem me deixou vertigem nas costas da janela estela foi despindo as coxas
me beijando os músculos com os seus dedos de moça nas entre linhas do meu terno
pra que a língua ardesse como pimenta azeite no fausto fogo desse inferno
FULINAIMAGEM 11
pessoas que me
comovem são aquelas que vivem ou viveram com os seus fios elétricos ligados
cuspindo seus relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas tempestades. sou
fanático sim por blues samba e reggae. faço as minhas escolhas independente do
meu coração partido e sigo vivo com Os Dentes Cravados na Memória para nunca
jamais esquecê-las como a carne que comia - pessoas que me comovem rasgam
o peito e
deixam
sangrar porno grafia
poética
100
desconstruir os objetivos fascistas
:
eis a questão
diária missão
de cada um de nós
poetas
quando sabemos que
linha
torta
é muito mais
que um poema em linha reta
FULINAIMAGEM
12
quando zeus
me apresentou o raio
umbanda venceu demanda
conheci um cão azul
que me guarda
na varanda
o
cão azul
para
Rodrigo Sousa Leão
in memória
ele cantava
como um pássaro engaiolado
as 4 da madrugada
no seu apartamento
e me perguntou
se eu tinha gostado
da garganta da serpente
e se era também azul
o cachorro que estava ao meu lado
invisível para mim
naquele momento
o amor
é um barco bêbado
depois da chuva
naufragado frente ao
cais
em Ubatuba
ancestral
há
muito tempo não recebo cartas de ninguém mas não rezo padre nossos simplesmente
para dizer amém
já
fui católico rezei terços ladainhas acompanhei a procissão dos afogados na
tapera para soletrar a palavra ca co man ga e entender que o barro da cerâmica
trago grudado na retina - meu batismo de fogo foi numa santa cecília entre
víboras e serpentes mordi a hóstia do padre - sua saia preta - me
levou a pânicos e pesadelos - de sonhar com juízes que hoje posso saber o
que são - minha África são os olhos negros de Madame Satã - na língua
tenho uma sede felina na carne essa fome ancestral pagã – de ser um
homem comum
filho de Ogum com Iansã
cato caco de vidro nos azuis
cato cacos de vidros
nos azuis dos alumínios lâminas de fogo azulejos nesse olho d'água
algas e pedras nesse tempo ostras antes das horas que o dia tarda e
os tiranos engatilhem seu torpor maligno - cato caco de vidros nessa areia
carma e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas - são tantas horas perdidas outras desencontradas na areia da praia no rabo da
arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus - essas horas que se perderam em ondas elétricas que se ejaculou nos ventos nas marés do zeus me
livre onde netuno não aporta mais os
seus navios
com
os dentes
cravados na memória
em
são sebastião do sacramento suas coxas em movimentos me lembravam
peixes sagrados nos mares que minas não tem - mãos por teus montes claros
provocavam marés - atropelos -passeios de língua entre pelos também em
outras partes lábios de mel sal abissal um peixe espada - prometeus -
desejos despindo teus seios teus dentes cravados nos meus e a lua por sobre a
capela a luz em tua alma - donzela - afrodite - uma caça
indefesa - presa - em minhas unhas de zeus
ainda que eu fosse
ainda que eu fosse peixe
ainda que fosse pedra
maré de maio não medra
maré de junho não fedra
a senhora das tempestades
vestiu meu vestido de chuva
vestiu minha blusa de vinho
nas festas das horas marcadas
a senhora das trovoadas
despiu minha roupa de sexta
despiu minhas roupas de quarta
deixou-me com saldo das festas
com gosto de encruzilhadas
Rúbia Querubim
a
mulher dos sonhos
será que Freud explica?
ontem sonhei com a mulher dos sonhos não era minha mas procurei saber quem era encontrei o endereço não estava - a governanta me falou que estava em búzios - não a vi mas ouvi uma voz e me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro deve ser bem lido e quem fala deve ser sempre escutado - o telefone toca não atendo nem sei quem está do outro lado - deu pra ver dois olhos nos búzios na areia ainda molhada pela espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto era ela toda de branco lenço azul nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos quando percebi quem era acordei do outro lado da praia ela gritou meu nome – perguntei quem era – ela me disse o sobrenome – não decifrei o sonho – mas perguntei se freud explica – ela me deu um beijo na boca.
mallarmè me deu o toque
para Filipe Barbosa Buchaul Gomes
poesia é pau é pedra
palavra sem retoque
quem
conhece o lance de dados
não
joga com dado lance
não troca flecha por lança
nem
armadura por bodoque
quem
sabe que vida é fedra
não teme a hora do toque
nem quanto custa ler Roberto Piva
e ouvir Fil Buc com a sua banda de Rock
escridura
esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua lambendo a carne quente
ela já foi meu grande amor
chegou na trovoada
feito ventania
foi
como tempestade
morreu na calmaria
cato cacos de azuis
nos alumínios
em cada mínimo
que vejo
azulejo
um poema mallarmaico
satírico freudelírico aramaico
onde voz nenhuma me alcance
um lance de dedos nos dados
uns dados de dedos no lance
onde vais cinzia farina
toda
vestida de letras
como
quem grafita na areia
esse
seu espelho d´água
à
beira mar na lua cheia ¿
onde vais cinzia farina
vestida de quase nada
rasgaram as letras do teu corpo
despiram tua carne de fada
nonada no meu prato
na hora do meu almoço
nonada no meu prato
na hora do meu jantar
nesse país a fome é tanta
que comeram meu calcanhar
no lance de tantos dedos
no jogo de tantos dados
meus 5 sentidos mordem
signos
sem
decifrar significados
se continuarmos
a dar queijo
para os ratos
eles continuarão
a roer nossos
sapatos
grafitemas e figuralidades
estou
escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema
a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite
de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na
areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras
como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do
rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que
vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu era
a transa as tralhas os truques
cai o pano
nenhuma surpresa
pratos vazios sobre a mesa
nessa
pedra me abstenho
nessa
pedra me abstrato
não
concreto o que não tenho
nem
des(calço) o teu sapato
o
cateto na hipotenusa
a
hipotenusa no cateto
o
som dessa flauta me parece
sinfonia
do Hermeto
essa
minha obsessão
por
beleza na ternura
abstrata
no concreto
vem
da plasticidade
de
uma nova arquitetura
o amor
esse bandido
levou-me os fios de cabelo
roubou todos meus sonhos
e transformou em pesadelos
Poema 8
o dia que não te vi
foi baudelérico
a noite que não
beijei sagaranagem
quando vi e não me viu não entendi
porque o amor não foi selvagem
quando beijei e não
sentiu
só mallarmélico
para escrever o que
ainda
está por vir quando delírico
última ceia
do
peixe vamos comer
somente
espinha
na
rapadura com farinha
vertigem 12
o barro do valão que os pés
pisaram impregnou o sangue transpirou nos poros o limo
embaixo das unhas lembra-me o lugar de onde vim aquele sertão alado como uma
ilha de creta montando alazão enluarado pre-destinado a ser poeta não tracei a
linha reta já nasci um anjo torto nada em mim se concreta no meu sonho – desconforto
-
tudo em mim é impossível até mesmo imprevisível muito mais que inalcançável não gosto de automóvel muito menos televisão cresci dentro do mato conheci olho de cobra tigre felinni felino moleque malandro gato com dentes afiados de cão
cada um com seus desejos
e o amor em desalinho
eu tinha fome de beijos
ela tinha sede de vinhos
pandeprosa
para Divanize Carbonieri
poesia
poderosa muitas vezes pandeprosa
muitas vozes
vozes muitas
muitas outras
línguas claras
mesmo em noites
obscuras
o abstrato se depura
em raras vozes
vozes raras
ave palavra
criaturas
poesia
é coisa cara
roteiro para um poema épico
estou liquidi-ficando com a fome dos desejos que se foram antes
itinerário
esse poema contém vírus desejos pecados
rasgados com Stella em São Conrado subindo ao Cristo Redentor do morro do
Corcovado a pedra do Arpoador
poesia pecados da carne sem limites
feito lâmina a luz do sol penetra em minha carne água sol sal céu mar limão alho mel de cana azeite suor pimenta atum sardinha gema no poema inventa cama em chamas acredite receita infalível para o sexo dinamites
nesse mar de espuma voa leve pluma nos teus olhos d´água travesso desde menino pelo destino em ser felino por travessura e desatino nas entre linhas entre minhas vinhas uvas passas ao rum línguas de vinho
Po Ema
se penso resisto mesmo tenso insisto
atravesso o tempo como quem partia nesse azul de sal num mar de algaravias como
quem se esquece numa quinta feira grafitando ideias com um giz de cera em
um mar de algas em tua pele pera na corte dos fellinis o mais felino
quebra as regras da estética desde menino zomba da rima rica na poética por
ironia do destino
a solidão berra entre céu e
terra
pala(r)vras de fogo em cartas incendiárias queimaram horas e dias nem sei mais o que pensam as 7 medusas do monstro encontradas no manguezal
tupi or not tupi
Itapetininga pedra de sal no mar de
Pirapitanga tem gente que de repente deixou de ser ou já não
era¿ quem disse que amor é santo¿ nem tudo que poderia te dizer
escrevo nem sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas
já contei nas asas do temporal imagens em chamas vieram nas entre linhas
rasgando as entre minhas esporas palavras dela
quem disse
que desejo não cabe no poema?
meu objeto do desejo tem nos olhos cor de algas e algum peixe que se foi sem teatro a alma não respira perde-se a vida Serafim Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas tenho uma amiga que ainda não sabe quanto é musa - nas Juras Secretas para ela muito já foi escrito e muito mais ainda tenho a escrever até rasgar as entranhas nas armadilhas do ser estou desde dezembro sem poder fazer o que gosto e isso me deixa em desgosto a vida sem tira-gosto vida de gado:
depois da engorda o
matadouro céus de fogo já rompendo as madrugadas em
noites claras do sertão por serTão iluminadas trago essas
noites dentro das cercas e arame farpados os currais dos campos
cerrados meu mato grosso de sangue vermelho fincou na cancela imagem do corpo
estirado depois do tiro no peito na fazenda encharcada
abandonada trago essas noite no tempo da cacomanga
assustado um menino que aos 7 anos viu a morte de perto por dentro de uma
garrucha do seu tio ali suicidado
hoje nem sei se escrevo
poema em linha reta
ou se embarco direto
para ilha curva de Creta
dada ista dada
ista era uma menina que me queria quântico
metafísico se o amor não fosse em carne até mesmo osso com o estigma da
crueldade presente em cada ato quando a pimenta do reino ardesse em vossa
língua ou queimasse à flor da pele o céu da boca e a carne nua e crua exposta
ao sol ao vento fosse apenas um feixe de lenha a ser levado por qualquer
lenhador que ousasse invadir seu mato dentro
ista me queria dentro de um versículo bíblico
mastigando a pedra até o pó a memória é uma língua suja que lambe a carne das
palavras morde com seus dentes até sangrar melado dos canaviais dessa lavoura
arcaica que hoje cultivo em meu quintal tem dias que a ossatura no corpo não é
mais que uma carcaça segurando a capsula da pele aqui de fora esse corpo que
carrega 288 estações primaveras verões outonos invernos à beira de um abismo
sem luz no fim do túnel pra clarear meu modernismo
nonada:
o homem com a flor na boca
vida toda linguagem
língua o trem da viagem
pinda o nome
na terceira margem do rio orucun
o mato grosso
me acertava
com algo
que ainda não conhecia
flecha de fogo certeira
Divanize me alertava
e o coração estremecia
os dias selvagens te ensinam
Aricy de minas
refletia
o amor no cerrado sangrava
como um beijo no asfalto
na boca de quem comia
o barco deslizava nas águas do paraguai
em direção ao futuro que não vinha
o homem com a flor na boca
atravessou o pantanal
com o seu poema pássaro
ave palavra profana
cabala que voz fazia
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como beijo no teu corpo agora
de suas janelas ela me olhava
como alguém que ainda não me percebia
o barco seguia seu fluxo
o sangue na veia era o que mais me ardia
ela só tinha nos olhos
animais aquáticos
os pássaros vez em quando
pousavam em suas janelas
minha língua lendo Ivo
me revelava o tempo e a ostra
campos era uma cidade
noblesse uma livraria
nas veias da mocidade
arte era o que existia
a bruxa dos cacos de cogumelos azuis
me confessou rasgando um blues
com os gumes da carnavalha
e as lâminas de um canivete
prometeu esquartejar os vermes
na próxima sexta vinte e sete
na noite consagrada ao desfile
toda cidade enfeitada
para um novo ritual
amanheceu a flor do pântano
e era domingo de carnaval
colorau o nome do vermelho
com que batizei o festival
no nine nem
língua toda viagem
linguagem que me convém
em meu estado de surto
Sartre de poesia
mama áfrica
a minha mãe já me dizia
ferramenta de barbeiro é carnavalha
a do poeta deve ser filosofia
retorno da viagem o hiato (entre parênteses) porto viejo canavarro onde o barro da carne era mais quente carnaval com fogos de artifícios um ritual em algum navio alguma nave o pantanal o mato grosso uma viagem a travessia
cada escola de samba que passava era um grito de nostalgia o pelo na pele arrepiava oswaldívia me visitava e quem disse que me alivia o corpo em transe delira e o povo de lá sucupira entre o pantanal de Corumbá e a fronteira na Bolívia meu corpo todo à deriva no mato grosso do sul no barco só tripulantes com seus turbantes azuis lábios vermelhos das tintas extraídas dos urucuns onde índios mascam contentes as suas folhas de coca e celebram seu presidente
Evo Morales nativo no fogo daquela
gente num ritual transitivo me leva a muitas cervejas do
outra lado a fronteira de santa cruz de lá sierra a barra
do sol cana brava usina de sal minha terra onde
Stella me esnobava mas bom cabrito não berra atravessei a
fronteira fui dançar com Gabriela uma
índia boliviana que me agarrou pelas costelas e me
amarrou num trava língua como os meus tempos na tapera
não é fácil
uma linguagem fácil
complexa ou metafórica
no ritmo de uma roda gigante
que a tua língua não controla
tragédia infame
empresto minha voz
aos deserdados os desnutridosos que não tem pela manhã café com pão e sobre a
mesa no almoço nem mesa nem carne seca com farinha espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
empresto meu corpo
minha voz a esses personagens os que tem sede os que tem fome ou os
que morrem assassinados nos guetos nos campos nas cidades por balas
de fuzil está fudido esse brasil entregue as traças e só me
resta exterminar o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça
O homem com a flor na boca
cada boca tem sua língua
cada língua tem seu vício
cada vício seu desejo
metáfora de fogo quem sabe
ou flor do desejo quem dera
o desejo da língua é o beijo
vermelha flor de
aquarela
a rosa quem me deu foi ela
nos olhos da flor o que sinto
no coração absinto o que vejo
e sem nenhum sacrifício
amar de forma indireta
sem pensar fim ou
início
de alguma jura secreta
a seta no arco é a flecha
o alvo da flecha é a seta
a flor na
boca é desejo
o beijo na flor é a meta
Fulinaíma MultiProjetos
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o vôo
de Heras
EvoEros
enquanto espero
outras Eras
primasVeras nesse quase verão/inverno
que me tire desse purgatório
nó da gravata
quase mesmo inferno
nos abismos desse terno
recortado por Gamboa
mas não sou Pessoa
dessa pedra Itabira
esse pó quase me pira
muritiba muquirana
Itabapoana não me engana
Macunaína ainda vive
nas favelas de Copacabana
Federico Baudelaire
leia mais no blog
Drummundana Itabirina
essa dica não é minha
dia 11 de outubro
a Nação Goytacá
vai Balburdiar
na CasAmarÉlinha
V(l)er mais no blog
jogo de dadaísta
não sou iluminista/nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca/negra
amar/ela vermelha verde
ou cafusa
eu sou do mato curupira carrapato
eu sou da febre sou dos ossos
sou da lira do delírio
e virgílio é o meu sócio
pernambuco amaralina
vida leve ou sempre/vida severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
profanar é o meu negócio
Artur Gomes
Juras Secretas
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clique no link para v(l)er o vídeo filmado em Gargaú por Letícia Rcha com trilha sonora de Fil Buc
https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8&t=10s
No próximo vinte e dois deste setembro dois mil e vinte e cinco finco os olhos na tela do ArteCult.com para v(l)er por onde andará Macunaíma?, coluna assinada pelo “bardo da cacomanga”. E por onde andará Macunaíma? Pelo polo sul ou norte? Ainda andará nos traços a lápis de José César Castro, o fógrafo/desenhista que não é casto? Talvez com um pouco de sorte nos encontremos com ele naquela preguiça boa, escre/vivendo/falando poesia pelo litoral de São Francisco onde Itabapoana agora é pedra que voa.
Artur Gomes (Campos dos Goytacazes-RJ, 1948) é poeta, ator, produtor cultural e vídeo maker, com mais de cinco décadas de intensa atuação nas artes. Criador de projetos que marcaram a cena literária e audiovisual brasileira, como o FestCampos de Poesia Falada e a Mostra Visual de Poesia Brasileira, Artur construiu uma trajetória que une poesia, performance e experimentação multimídia.
Em 2019, lançou o Sarau Balbúrdia PoÉtica, que se tornou um espaço vibrante de celebração da poesia falada e da performance, circulando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. O projeto já realizou onze edições, incluindo participações em eventos de grande destaque, como a Bienal do Livro de Campos, e contou com apoio de instituições culturais e do portal ArteCult.com
Autor de mais de 15 livros publicados, entre eles Juras Secretas (2018), Pátria A(r)mada (2019, Prêmio Oswald de Andrade/UBE-Rio) e O Homem Com a Flor na Boca (2023), e Itabapoana Pedra Pássaro Poema (2025). Artur segue produzindo intensamente e difundindo a literatura contemporânea. Mantém o blog Nação Goytacá, https://arturgumes.blogspot.com/
onde reúne a série TransPoÉticas – Coletânea de Poetas Vivos, reafirmando seu papel como articulador cultural e voz ativa da poesia brasileira.
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