Poética 42
Era uma menina vestida de outubro
atravessando a rua
com um girassol no seu vestido
suas mãos beijavam o vento
como fossem lábios
de um beija-flor
meus olhos mergulhados
na paisagem
entre os olhos da menina
e o espelho do retrovisor
foto.grafei naquela tarde
a cor do seu vestido
e o girassol daquele dia
para me habitarem
seja lá por onde eu for
Poética 45
a tessitura da palavra perda
me provoca sobressalto
atiro a pele para o alto
e salto para o abismo do poema
pornofônico confesso
se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em letal porno grafia
na sagração da mulher
me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja/devora
palavra por palavra
a fome por dentro e fora
em pornofonia sonora
me diga Lady Senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus
me diga Bia de Dora
num plano lítero/estético
qual humano ou cibernético
que te masturba ou te deflora
onde a poesia
se espalha
a língua nativa
não é fogo de palha
é brasa viva
Poética 80
pelas juras do sagrado
nos secretos sacramentos
juro que o meu amor o-culto
se esconde no silêncio
o seu eterno juramento
não me fala das pedras
do vale da fala
desconfio que o meu amor o-culto
esconde a sua verdade
com medo da dor que sangra
na ferida da saudade
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