A Traição do Lirismo
Dalila Teles Veras
Artur Gomes, feito gume, é máquina
devoradora do mundo. Mastiga coisas, afetos, pessoas, rumina e afia os elementos em
sua navalha verbal e os transforma na mais pura poesia.
Dono de uma criatividade em permanente ebulição, hábil no verbo e
na disposição visual do mesmo no espaço do suporte - papel ou pano -
bandeira a gotejar palavra que, não raro, é também palco e gesto,
(in)cenação a complementar e enriquecer o que a palavra muda já disse, a
dizer outra coisa que é também a mesma coisa: poesia.
Poeta em tempo integral, como poucos ousaram ser, Artur Gomes constrói,
sem pressa (os anos não parecem pesar - na carne nem no espírito)
a sua delirante e criativa poesia, colagem da colagem da colagem,
(re)encarnação mais do que perfeita da antropofagia como nem mesmo o
velho Serafim sonhou. Nada,
absolutamente nada escapa à sua devastadora e permanente passagem,
andarilho de poderosa voz a evangelizar para a poesia.
Este Brazilírica Pereira: A Traição das
Metáforas é a continuação
de um enredo de há muito ensaiado. Seus atrevidos personagens já
apareciam em Vinte Poemas com Gosto
de JardiNÓpolis & Uma Canção Com
Sabor de Campos.
Legítimas apropriações retiradas de
suas viagens brazílicas, figuras que a sua generosidade literária
faz questão de homenagear. Na passarela poética de Artur,
tanto podem desfilar Mallarmé, Faustino, Dalí, Oswald,
Baudelaire, Drummond, Pound, Ana Cristina César e o sempre lembrado
mestre Uilcon Pereira, a quem o novo livro é dedicado, como personagens
anônimos encontrados nas quebradas do mundaréu, além dos amigos,
objeto constante de sua poesia.
Neste caldeirão, “olho
gótico TVendo”, entra até um despudorado acróstico, rimas milionárias
em permanente celebração. O poeta Artur,
disfarçado de concreto,
celebra descaradamente a amizade e o lirismo e ri-se de quem tenta
classificá-lo. Evoé, Artur!
Delírio Verbal e Preito
em BraziLírica Pereira
O livro, altar em que se
celebra poetas do conturbado século XX, traz a poesia do poeta fluminense Artur
Gomes, situada na interface da praxis artística e da experiência
existencial, advinda do campo das escaramuças lexicais e da experimentação
alegórica.
Erorci Santana*
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BraziLírica Pereira: A Traição das
Metáforas (Alpharrabio Edições, Santo André/SP, 2000), obra poética de Artur Gomes, toda grafada em minúsculas,
principia com dois textos ou, melhor, intertextos com lastro na obra do
escritor Uilcon Pereira, espécie de
homenagem a desvairada letra uilconiana
e à figura daquele escritor. Tanto que, no sintético poema que arremata esse
preito literário, Artur o invoca
através de uma circunstância biográfica datada:
“quem es tú uilcon pereira?/que foste fazer na sorbonne?/ter aulas com
sartre/ou cantar a simone?”.
Contudo, e apesar da primazia de Uilcon
Pereira nesta festa verbal, é vasto o coração dessa usina lírica, BraZilírica Pereira trafega em que,
antes de traição, há a afirmação do caráter multifacetário e engendrador das
metáforas, personificadas e levadas ao extremo onde êxtase e humor se
entrelaçam.
Todo um renque de escritores de
ponta é glosado, parodiado e parafraseado: Mallarmé(e seu lance de dados),
Oswald de Andrade (e seus biscoitos finos, prometido ao palato das massas),
Leminski (e sua Alice), Drummond (e seu anjo torto), além de Torquato Neto,
Mário Faustino, Sousândrade, Ezra Pound, Dalí, Ana Cristina César, autores
referenciais a constituir um panteão geracional. São ícones alinhados no altar
da celebração literária, sim, mas também serventia doméstica, dos quais o autor
se utiliza, por estético capricho, com derrisão e iconoclastia:
“torquato era um poeta/que amou a ana/leminski profeta/que amou a
lice/um dia/pós/veio uilcon torto/e pegou a joia diana/juntou na
pereiralice/com o corpo & alma das duas/foi Beauvoir assombradado/roendo o
osso do mito/pra lá de frança ou bahia/pois tudo que o anjo via/Sartre jurou já
Ter dito/Nonada/biúte:ria”.
Aqui não se vislumbra paradoxo, pois a modernidade, tendo peneirado as cinzas
da dor humana no século XX, revelou a fênix de face tanto ebúrnea quanto
álacre; a arte passou a privilegiar o profano e o lúdico em detrimento das
inclinações sacramentais e sombrias.
E essa BraziLírica Pereira
antropofágica e transluzente é a maneira do poeta entretecer a urdidura dos
afetos, reinventar a cultura e os agentes culturais de sua predileção, com
instrumentos lúdicos e sarcásticos, considerados a ponte para a grande
arte.
Outro aspecto a ser considerado é que o autor, egresso do movimento da poesia
marginal dos anos 70,
“essa poesia de efeito
extraordinariamente comunicativo, que procura e tira vantagem de uma dicção
bem-humorada, ardilosa, alegre e instantânea”, na radiografia de Heloísa
Buarque de Hollanda, incorporou e aprimorou suas principais conquistas
estéticas, notadamente elementos da oralidade acoplados à exploração acentuada
da sonoridade vocabular, recurso que leva a poesia ao liminar do domínio
musical.
Quase não é mais poesia para ler e sim para dizer em alta voz, ou
cantar., circunstância em que o poeta moderno recupera o status de jogral.
Nessa aventura literária, às vezes o autor se transubstancia no texto,
traveste-se através das personas Lady Gumes, Macabea, Federika Bezerra, Fedra
Margarida, projeções de seu alter-ego que pretendem cravar o corpo na palavra,
com sinuosidades, coalescências e dissimulações, atributos só encontráveis no
espírito feminino.
Situada na interface da praxis artística e experiência existencial, o
poeta-prazer, com estado de êxtase permanente desde Couro Cru & Carne Viva, perpetua sua poesia guerrilheira no
campo das escaramuças lexicais e da experimentação alegórica, dotada até de um
certo autoflagelamento exibicionista, em que louca e alucinada se lacera e
despe-se da veste hierática revelando sua outra face insuspeita, sua outra
indumentária profusa e multicolor. Em outras palavras, seu traje de ironia e de
humor.
Erorci Santana é poeta, autor de Estatura Leviana,
Conceitos para Rancor e Maravilta.
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Vampiro
Goytacá
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axioma
para final de século
p/Carlos Careqa & Hélio Letes
a diferença
entre o legume
e o vegetal
VER/dura
mineral
nas minas do quintal
fruto menstrual
no ancestral pomar
das coxas
Artur Gomes
BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas
Alpharrabio edições - 2000
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Balbúrdia Poética
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tirei hoje de uma foto.grafia que vi na tv a fumaça do tempo em que não vivi
Artur
Gomes
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