O tempo vai passando e sem poemas
eu fico sem problemas
até que do entre os peitos começam abismos
e de cada uma das mãos uma saudade.
Dos pés um espaço vazio
Estou começando a estar aprisionada
de poemas
e poemas gostam de vibrações.
Não de emoções
que são sempre excessivas e vazias,
mas vibrações
que é também o estado das emoções
antes de terem nome
e conceito.
Preciso de palavras, eu penso.
Preciso deixar falar
O rio de letras em meu corpo.
Ai tudo se completa em etapas.
Tudo se encaixa e retrai. Tudo amor.
Viviane Mosé
do livro desato
2006
moinhos de vento
por tanto tempo
por tanta escrita
por tanta carta
sem respostas
nossos moinhos de vento
muito além da mesa posta
ainda trago em mim
tuas mãos
tuas coxas
tuas costas
a tua língua
entre os dentes
em ex-camas que não tivemos
em madrugadas expostas
e tua fome era tanta
em tudo o que não fizemos
nesse teu corpo de santa
naquele tempo de bestas
na caretice de bostas
Artur Gomes
Do livro O Poeta Enquanto Coisa
2020
*
Eu sonho poema
Tem quem sonha
Em preto e branco
Tem quem sonha
Videoclipe
Tem quem sonha
Filme mudo
Tem quem sonha
Tela de cinema
Eu sonho poema
Armando Liguori Junior
do livro A Poesia Está Em Tudo
2020
*
Calor dentro
Calor fora
Quarenta graus
à sombra
Assombra
Tua mão quente
sobre o seio meu
hora ígnea
ante o olhar
de Prometeu
Noélia Ribeiro
do livro Espivitada
2017
Balbúrdia PoÉtica 5
Dia 5 – Abril – 2025 – 16h
Campos VeraCidade
música teatro poesia
Academia Campista de Letras
Parque Dr. Nilo Peçanha
Jardim São Benedito
Campos dos Goytacazes-RJ
textos/poemas de:
Ademir Assunção + Paulo Leminski + Ferreira Gullar + Artur Gomes + Torquato Neto + Viviane Mosé
*
Artur Gomes
Jogo de Dadaísta
não sou iluminista/nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca/negra
amar/ela vermelha verde
ou cafusa
eu sou do mato curupira carrapato
eu sou da febre sou dos ossos
sou da lira do delírio
e virgílio é o meu sócio
pernambuco amaralina
vida leve ou sempre/vida severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
profanar é o meu negócio
clique no link para ver o vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8
Mostra Visual Poesia Brasileira
Exposição retrospectiva
Múltiplas PoÉticas
17 Maio – 20h – na programação da Balbúrdia Poética 6 – em Cabo Frio
com a Poesia de:
Tanussi Cardoso + Lau Siqueira + Wélcio de Toledo + Sérgio de Castro Pinto + Tchello d´Barros + Jidduks + Ademir Assunção + Torquato Neto + Paulo Leminski + Noélia Ribeiro + Aroldo Pereira + Jorge Ventura + Ricardo Vieria Lima + Angel Cabeça + Luis Turiba + César Augusto de Carvalho + José Facury + Artur Gomes
muito mais – aguardem mais informações
- tem chá tia
- com anis
- sem anis tia
Lira Auxiliadora Lima de Castro
leia mais no Blog
Balbúrdia PoÉtica
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
Olhos de olhar pra dentro
Tinha uns olhos que não eram olhos,
eram tardes de chuva miúda
dissolvendo a cidade em espelhos,
estradas sem pressa,
trens que voltam e nunca chegam.
Os olhos dela sabiam de tudo,
das mortes pequenas nos quintais de infância,
dos tremores que moram no fundo do peito,
da poeira que dança no sol das manhãs.
Sabiam até quando ele mentia.
Olhos que pesavam o silêncio,
que liam cartas não escritas,
que ficavam parados, tão quietos,
mas sabiam voar.
E ele, que só tinha palavras tortas,
quis aprender com os olhos dela
a ver as coisas que não se dizem.
Simone Bacelar
Salvador (não lembro a data
Balbúrdia PoÉTICA 5
Dia 5 Abril 2025 – 16
música teatro poesia
Academia Campista de Letras
Parque Dr Nilo Peçanha – Jardim São Benedito – Campos dos Goytacazes-RJ
Pois bem, o dia está chegando e eu estava tenso, preocupado com uma resposta que aguardava, pois se ela não viesse a tempo, ou fosse negativa, o roteiro para a Balbúrdia precisaria sofrer alterações quase aos 45 minutos do segundo tempo. Corria esse risco. Mas eis que a reposta positiva me chegou:
Viviane Mosé me autorizou a utilizar no roteiro poemas de sua autoria. Conheci Viviane e sua poesia, em 2002, quando ela venceu o IV FestCampos de Poesia Falada com o poema; Receita Para Lavar Palavra Suja. Em 2002 ainda a trouxe a Campos para o projeto Terças Poéticas que era realizado pelo SESC Campos. Feliz Dia
Ale´m dos poemas de Viviane Mosé no roteiro da Balbúrdia PoÉtica 5 – tem poemas minha autoria mais: Ferreira Gullar, Paulo Leminski e Torquato neto.
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 – zap
@fulinaima @artur.gumes
*
Balbúrdia PoÉtica 5
Dia 5 Abril 2025 16h
na Academia Campista de Letras
Parque Dr. Nilo Peçanha
Jardim São Benedito - Campos dos Goytacazes-RJ
nem ingênuo nem inocente
Marielle Presente
hoje já sei o que vai ser
ensaio com o elenco
até um novo dia amanhecer
Fulinaimagem
1
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato
por enquanto
vou te amar assim admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos
2
o que trago embaixo as solas dos sapatos
bagana acesa sobra o cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll
pra colher lírios há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel
do livro: Juras Secretas –
Litteralux - 2018
clique no link para ver o vídeo
https://www.instagram.com/p/DHfxt75OIOJ/
todo
sábado
me
esqueço
me
entorto
enlouqueço
desconcerto
amanheço
ver pra crer
:
difícil
de falar
ótimo de fazer
amor
balbúrdia gozosa
jorrando poesia
enquanto goza
fazer balbúrdia
jogo de cartas
sem baralho
:
dá prazer
mas dá
trabalho
Artur
Gomes
https://fulinaimagens.blogspot.com/
canção de um realejo solitário
para Artur Fulinaíma
“ainda tenho o teu perfume
pela casa
ainda tem você na sala
porque meu o coração dispara
quando sinto teu cheiro
dentro de um livro
dentro da noite veloz”
Adriana Calcanhoto
meu coração dispara
quando abro a porta
e não te vejo
na vertigem do dia
canção de um realejo solitário
quando não te beijo
eu imenso mar sozinha
como um peixe afogado em águas
de delírio e lágrimas de sal
Rúbia Querubim
in Drummundana Itabirina
Com os dentes cravados na memória
leia mais no blog
https://arturkabrunco.blogspot.com/
ouvi de um poeta
nesta última madrugada
na certa
com certeza
ele brigou com a namorada
Lady Gumes
Itabapoana
Pedra Que Voa
dia desses sonhei com alquimia
ciência da transformação
na prova dos nove é alegria
o coração da pedra vira pássaro
e voa para outra dimensão
Artur Gomes
Por onde andará Macunaíma?
vendavais
Manual Para Assassinar Frangos
Martinho Santafé
poema vencedor do
III FestCampos de Poesia Falada
Às vezes, era o Rio
Paraíba do Sul
que desmesuradamente crescia.
E as ruas ficavam cheias de escorpiões,
cobras d´água, lacraias com mil pernas...
parecia um monstro epiléptico e barrento
numa corrida maluca até o mar.
A gente torcia para que o rio subisse mais,
cada vez mais,
para que alguma tragédia
se consumasse, como no cinema.
Queríamos ver casas desabando,
árvores arrancadas à força,
as meninas, descalças,
impedidas de ir à missa dominical,
bêbados patinando no caos,
arrastados até a foz de Atafona,
numa infinita poça de lama e cuspe
que mandávamos para o céu.
Estávamos prenhes de vida
e queríamos a morte de mentirinha.
Sonhávamos com o apocalipse doméstico,
com a bomba asfixiando nossos
pré-sonhos.
O primeiro amor estava ao lado,
nas aulas do Liceu que, às vezes,
assassinávamos
com delicado prazer.
No verão de 66,
o rio ficou irado de verdade,
se emputeceu, invadiu o baú
onde eu guardava meus gibis
trocados antes das matinês do Cine Coliseu.
Adeus minha coleção
tão preciosamente inútil
de David Crocket, Buffalo Bill, Zorro,
Rock Lane, Cavaleiro Negro e etc.
E me lembro dessa grande enchente,
da aniquilação dos pessegueiros,
das parreiras, dos limoeiros, dos frangos,
da horta que minha avó tão bem cuidava.
Abius, mangueiras, bananeiras,
caramboleiras, formigas,
tudo se foi com o rio,
com essa referência geográfica
e conceitual
que ainda hoje tento traduzir.
Tudo se foi com o boi morto
no meio da correnteza,
coberto de urubus.
E no radinho de pilhas de s´eu Bertolino
(que, em uma canoa, ajudava as famílias
a recolherem seus pertences),
os Beatles cantavam “I want a hold your hands”.
Comecei a crescer com os Beatles
(e eles comigo),
a respeitar o rio e a temer s´eu Leleno,
meu vizinho e flamenguista doente,
que nas tardes de domingo,
quando o seu time perdia, enfiava a porrada
na Dorotéia, sua mulher - e maior torcedora
do Flamengo, por motivos amplamente justificados.
Também havia a Josete,
que ajudou a me descriar
e que tinha um namorado chamado Jomar,
um refinado sem vergonha.
Em 62, o Brasil foi bi-campeão
e Josete imaginava
Jomar fazendo gols nela.
Se Josete gozava, o fazia discretamente,
como os anjos gozam.
No silêncio.
Josete, que hoje é avó,
era filha de Neco Felipe,
um negro caolho e feliz,
que organizava os forrós
em Conselheiro Josino,
interior de Campos dos Goytacazes.
Forrós animados com cachaça, lampiões,
sanfona e alguma voz desdentada,
uivando para a Lua, nas quentes
madrugadas.
Além de Neco Felipe,
conheci outras pessoas felizes
que moravam naquela vila
no verdadeiro cú do mundo,
entranhada na miséria e nos canaviais
(os dois sempre andaram juntos),
com um cemitério
na beira da estrada.
Minha cabeça
se embaralhou toda:
- como é que as pessoas
podiam ser felizes
em Conselheiro Josino ?
Como é que as pessoas
podiam ser felizes
naquela merda,
ao lado de um cemitério
mambembe,
perto de um rio carregando tudo?
Como é que as pessoas
podiam ser ?
Mas as pessoas
eram
e algumas até se
foram.
para Martinho Santafé
e Fernando Marcelo
in memória
Macaé
quantas vezes
mergulhei em imbitiba
quando era uma praia porreta
hoje não dá mais pé
e desfilei no boi capeta
com Marinho Santafé?
quantas vezes
poesia falada pelos bares da cidade
quanto mais significa
enquanto Fernando Marcelo
em seu jornal paralelo
expunha as questões do ambiente
da lagoa de imboacica?
no carnaval de 85
com máscara
de tancredo no rosto
travestido de lelê
pra dançar no tênis clube
e entrevista na tv
tudo visto tudo posto
enquanto isso
um rock in rio primeiro
com strip-tease de Péris Ribeiro
imitando o ACDC
para desvenda pedra do rock
em noites boêmias por aqui
no Palácio do Urubu
teatro música performer
poesia em exposição
e Sandra Wait me disse
logo assim que me ouviu
isso aqui está bem a cara
da bandeira do Brasil
um estandarte em procissão
e então Macaé
quantas vezes bebemos todas
quantas vezes tragamos todas
quantas vezes vestimos todas
poesia em comunhão ?
Artur Gomes
San Francisco de Itabapoana – 17 março 2025
era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma?
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?
Artur Kabrunco
o
amor é impaciente
ele
tem pressa
não
somos tão jovens
como
as canções
você
tirou meu tempo
me
fez solidão no amor
me
dominou pensamentos
rasgou
meu livro
de
Bukowski
voce
é ousado que só
calou
Chico
o
Buarque
calou-me
não
sei se você brinca
ou
flutua
mas
sei que causa tumultos
imperdoáveis
você
não mente
mas
peca
arranca
de mim
livros
e roupas
rasga
tudo
e
numa lucidez barata
e
calma
tropeço
como
nunca
ou
eu rasgo roupa e verbo
ou
deixo mais um verso solto
demasiadamente
solto
feito
quem morre
sem
conhecer
o
cheiro
da
flor
que
seu corpo vela
Mônica Braga em um amor
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
Poética 55
aqui nesse Puerto Viejo
te beijo em tudo que vejo
teus olhos me vem como feixes
teus olhos fachos de luz
faróis – no desejo concreto
sinais – nesse deserto de
gente
secreto em tudo que sinto
sinto muito – e também sente
EuGênio Mallarmè
ou tudo será posto de lado
e na
procura da vida
a morte
virá na frente
e abrirá
caminhos.
É preciso
que haja algum respeito,
ao menos um
esboço
ou a
dignidade humana se afirmará
a
machadadas.
Torquato Neto
Alguém
sentou
Para
olhar o mar
O mar não
parou pra ser olhado
Foi mar
para tudo enquanto é lado
Paulo Leminski
Subversiva
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha Como puta Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.
Ferreira Gullar
não forçarei mais a chave
em fechadura errada
e nem insistirei
em calçar sapatos
que não me servem
assim,
tento ficar melhor
e escolho os dias de sol,
ou os nublados,
ou com chuva.
eu escolho.
a beleza dos dias
está em mim.
planto uma semente
em qualquer coração,
faço um poema
sem pretensão de colheita.
e sigo
nua, apreensiva e eterna.
Mônica Braga
As promessas dançam
como sombras sobre as águas.
Têm a forma do desejo,
mas oco é seu ventre.
Semeiam futuro nos lábios
e murcham antes do amanhecer.
Tão fáceis de vestir quanto de despir,
deslizam dos olhos sem deixar rastro.
Eu as vi nascer em bocas cálidas,
com perfume de verdades inventadas.
E vi morrer na secura dos dias,
quando o tempo as desmascara.
Quem me dera acreditar
sem carregar o cansaço de já saber
que as palavras juradas,
pesam menos que o silêncio.
Simone Bacelar
SSA 16/03/2025
FERIDAS
Então eu disse
Mamãe há uma ferida na minha perna.
Há muito medo em mim.
Ela se prolifera por minuto
como os pés de milho no mundo.
Já coloquei sobre ela folhas molhadas de malva e alecrim
mas não houve nenhuma cura, ainda que eu pedisse.
Ontem vieram, à tarde, homens e meninos
com suas roupas escafandras.
Trouxeram-me biscoitos orientais
leite fervido, amoras pretas
coxas fritas de passarinho
olharam, passaram as mãos,
mas nada fizeram pela cura da ferida.
Veja nela a diferente forma de árvore
saindo daquela portinhola pintada de barcaças vazias.
Espanta-me essa seiva de pólen de flores
que dela escorre.
Peço-lhe, ainda que lhe seja estranho
derrame seus cabelos que cantam,
sobre a minha ferida.
Deixe que as estrelas iluminem essa cama
e durma enquanto eu dormir.
Sei de dores de outros que se encontram no campo
mas, peço-lhe, durma sobre a minha perna ferida.
Celso de Alencar (do livro Poemas Perversos - Editora
Quaisquer 2010)
Foram unhas
excitadas do inferno
que deixaram expostas
aos olhos do mundo
as cento e onze picas.
Estão mortas
as cento e onze picas.
Eternamente mortas.
Não veio do gozo
o gemido ouvido
no labirinto.
Foi do vendaval de chumbo
estacado na carne aflita.
Cento e onze bocas mortas.
Cento e onze vaginas órfãs.
Estendidas sobre
o largo piso frio,
enfileiraram-se para o pouso
de insetos de mortos.
Negras, brancas, pálidas,
as cores não importam.
São apenas
cento e onze picas mortas.
celso de alencar
toda vestida de letras
como quem grafita na areia
um espelho d´água
à beira mar na lua cheia?
Federico Baudelaire
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