A
Qual é a chave do cansaço?
de que talvez nem tudo valha a pena
sendo a alma grande ou pequena
Qual a chave do destino?
a covardia bate na porta
e parece te convidar para dançar
Não há chave nem porta
apenas um silêncio na aorta
e este conhaque tão comovente...
Qual é a chave do universo?
Jidduks
nos olhos amplificadores
no ouvido e
estimulantes no pau , quero ser o miolo desse boi,
antes do matadouro geral
da brincadeira real.
José Facury Heluy
*
SER OU NÃO TER
Para a nossa eterna anarquia
cabocla,
caiçara,
caipira,
seja qual nome queiram dar,
o pai do posto maior
nunca nos serviu bem
Qual mito vamos necessitar?
Um místico apocalíptico
Tipo o Conselheiro
ou um militar genocida
Tipo o Caxias ...?
Se é pra ter nessa politrica um pai,
melhor um que nos prometa o céu
ou um que nos arremeta ao inferno?
José Facury Heluy
o amor não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
Gigi Mocidade
tudo é Divino maravilhoso
atenção para o refrão:
é preciso estar atento e forte
não temos tempo de temer a morte
Caetano
Veloso
"Nunca fomos catequizados fizemos foi carnaval".
Oswaldo
de Andrade.
Nunca
fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia anti-colonial.
Sady
Bianchin
corpoesia
no sarau
a poesia
muda
no corpo
a língua
muda
na língua
a vida
vive
César Augusto de Carvalho
um
poema na cabeça
vamos
filmar o poema
antes
que desapareça
Artur
Gomes
eco lógica
fosse o brasil
mulher das amazonas
caminhasse passo a passo
disputasse mano a mano
guardasse a fauna e a
flora
da fome dos tropicanos
ouvisse o lamento dos
peixes
jandaias araras ciganos
e nossos indígenas
africanos
não estaríamos assim
condicionados
aos restos do sub-humano
Artur Gomes
Dos livros: Couro Cru
& Carne Viva – 1987
O
poema
dentro de mim
morreram muitos tigres
os que ficaram
no entanto
são livres
Lau Siqueira
me visto de poesia
quando encarno faustino
com kimono de judô
um prefácio no intestino
na estrada que o destino
me bashô
Rúbia
Querubim
*
Eu queria tornar a língua molhada.
Fazer a palavra retornar pra boca.
É a língua da boca que fala a língua.
Palavra vem molhada de saliva.
Viviane
Mosé
do livro desato
Prefácio
Quem fez esta manhã quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro.
Quem fez esta manhã predestinou
Seus temas a paráfrases do touro.
As traduções do cisne:
fê-la para Abandonar-se a mitos
essenciais,
Deflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que
transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecunda-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim: ter entre aurora
E meio-dia um homem e
sua hora
Mário
Faustino - O Homem e sua Hora
Leia mais no blog
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting
Luis Turiba
amor, então,
também acaba?
não, que eu saiba.
o que eu sei
é que transforma
numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
ou em rima
*
A Vida é as vacas
Que você coloca no rio
Para atrair as piranhas
Enquanto a boiada passa
Paulo Leminski
É hora
de amolar a foice
e cortar o pescoço do cão.
— Não deixar que ele rosne
nos quintais
da África.
É hora
de sair do gueto/eito
senzala
e vir para a sala
— nosso lugar é junto ao Sol.
ADÃO VENTURA (1946 - 2004)
assim como o pau-brasil
a flor do mangue
também
sangra
Rúbia
Querubim
nem cola
nem bola
não vivo de fantasia
o que rola aqui é poesia
Pastor de Andrade
o antropófago
eu sou
o que invoca
o que provoca
incorpora
desconcentra
desconforta
desconstrói
e desconcerta
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
MOENDA
usina mói a cana
o caldo e o bagaço
usina mói o braço
a carne o osso
usina mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
o saldo & o lucro
Artur Gomes
in Suor & Cio - 1985
e Pátria A(r)mada 2022
gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia
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