terça-feira, 12 de março de 2024

Carlos Gurgel - 2 poemas

 

bagatela

 

ora pro nobis

enchovalhado capitão sem recato

cora com seus dedos e pés

essa insuportável bulemia tribal sem resina

 

imergi tal qual touro insuportável

tudo do que a potranca felicidade borrifa

súplica de conventos rastros pastos ruins

 

tritura com sua língua bardo

o verossímil da carcaça de tantos couros crus por onde esses trancos desses pastos sem crina

fervilham os restos dos museus de milhares desses crentes pobres pingentes de lentes

gengivas sem dentes

 

escarra sempre mestre

no âmago desse infortúnio dessa res fezes

desespero dessa raça

pantano de pandemônio e pavor

 

e como eterna antena lanterna rebelde insurrecta

escolhe o verbo mais vil

espalhando por sobre esse mundo patife

o bile que ninguém fascina em degustar.

 

 

bula

 

lá se vão as letras

carcomidas como cadáveres

 

entre a beira mar

e o arquipélago dos nossos ossos

 

lá se vão as letras

palavras vestidas de covardia e coragem

 

como umas naus

estibordo de canoas

e abismos

 

tal como a conhecemos na infância

com lágrimas nos olhos

e o mundo chamando para entendê-lo

 

lá se vão as letras

umas cavernas cobertas de silêncios

e do furor de cada casa dos humanos

que pululam pelas aldeias e meiotas de becos sem saídas

 

lá se vão

as letras

 

como hóspedes do íntimo de cada espanto

soletrado

 

como uma cacimba de dentro

dos nossos desconhecidos quintais

e ventanias sem fim

 

então

que as letras nos comam

que as letras nos consumam

 

como espantalhos

apanágios de flores

e da imensidão das nossas indecisões

e vazios.

 

Carlos Gurgel


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