a tarde arde como gengibre na carne
da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das
marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne
de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui
saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza
sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria
incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.
Artur Gomes
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um dia desses
quero ser Sérgio Sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão
Federika Lispector
DialÉtica
para Federico Baudelaire Lys Cabral e Federika
Lispector
um dia desses
não quero ser Paulo Leminski
nem dançar como Nijinski
ou escrever feito Pessoa
numa boa
quero voltar a Curitiba
e sair da pindaíba
escancarar o Beleléu
quero ouvir Carlos Careqa
esse - Filho de Ninguém
e botar fogo no céu
onde o anjo diz: Amém!
quero ser o Nego Dito
ou será o Benedito
do Itamar da Assumpção
um dia desses
quero ser um João Gilberto
e quem sabe Caetano
pra cantar em Salvador
quero ser um Pai de Santo
fazer de Lys a minha flor
um dia desses
quero ser um Celso Borges
quero ser um Cláudio Willer
quero ser Eliakin
um Ademir Assunção
quero ser sempre Plural
estar sempre em profusão
um dia desses
quero ser Zeca Baleiro
pra dançar Boi no Terreiro
com Salgado Maranhão
Artur Gomes