no hotel amazonas - galvez o imperador do acre hospedou-se
em sua passagem por campos dos
goytacazes em direção a vitória do espírito santo e deixou por aqui o vampiro goytacá
que mora neste hotel até hoje e passa as madrugadas na janela do quarto olhando
o pátio interno tentando reencontrar o seu amor benta pereira muitas vezes vi
lágrimas descendo dos seus olhos e as mãos apontadas para o telhado do outro
lado do corredor enquanto rezava para santo antônio e nina aroeira quando viu
pelos corredores a linda flor de florlisbella
passos
Artur Gomes
Vampiro Goytacá
Crônica
do sertão mineiro
Em
um quarto honesto de hotel
Um
homem acorda suado
No
meio da madrugada
Morna
e quieta
de
uma cidade
ao
norte
que
rasga o sertão.
Em
um golpe
se
livra
Do
lençol,
De
brancura e perfume
compatíveis
Com
a diária
Que
cabe em seu bolso.
Toda
cama de hotel é imensa
Para
um homem sozinho,
E
antes que
O
recapture o sono,
Ele
imagina outro movimento:
Lentamente,
indo ao chão,
o
vestido justo,
Colado
ao corpo
Da
mulher que conheceu
Noite
passada.
Quando
enfim adormece,
Em
sonho, a nudez
Dessa
mulher
O
leva em paz
Até
o abandono
Do
amanhecer.
André
Giusti, Montes Claros –
Brasília, outubro/2022
com as mulheres do mundo,
que pensava em amar,
me descobri vazio,
um madeireiro a procurar
no bosque imenso e profundo
árvores que cortava sem vacilar.
advertiu-me um velho sábio:
o bosque há de acabar!
sem dar bola a tal conselho
continuei o machado a afiar.
dos golpes começaram a brotar
rebentos fortes, sadios.
eu, espantado, a especular:
o que neles era contido
que não saberia explicar?
de novo o velho sábio
veio comigo a conversar:
dos rebentos produzidos
há sua alma a clamar
perdão pelos golpes dados.
de volta ao bosque fui buscar
as árvores que tinha golpeado.
perdão queria implorar.
na primeira me vi avô,
na segunda, um filho a chorar
na terceira, um pai perdido
e na quarta, uma mãe a lamentar.
depois do bosque percorrido,
o crepúsculo a se aproximar,
nas mulheres que tinha amado
percebi que o presente a ganhar
era o que elas tinham gerado.
antes da noite terminar
veio o velho acompanhado
das orixás a me mostrar
que dos golpes que havia dado
só uma pessoa poderia magoar,
uma pessoa que era resultado
das mulheres que desejava amar,
todas contidas em mim mesmo
na figura de pai a buscar
a mãe que nunca teria sido.
*
tudo começa num ponto
às vezes é o centro
equidistante
entre dois oceanos
às vezes
apenas um ponto
intersecção de duas linhas
um coração que bate
um ponto
onde tudo começou
Cesar Augusto de Carvalho
na casa da infância
tinha banho de tanque
galinhas dormiam no pé de
manga
tinha boneca de espiga de
milho
trem de madeira no chão de
trilhos
na casa da infância
tinha porco no chiqueiro
pés de mamão no terreiro
tinha pão com marmelada
amarelinha na calçada
na casa da infância
se brincava de
esconde-esconde
se fartava de fruta do
conde
tinha papo no portão
quermesse de são joão
na casa da infância
tinha namoro na praça
crianças em arruaças
tinha arrasta pé
fumaça de chaminé
na casa da infância
tinha pés de alface
comida pra quem chegasse
tinha pé de uva
corrida na chuva
na casa da infância
tinha cerca de madeira
pé de jabuticabeira
tinha sol na varanda
pés de pitanga
na casa da infância
tinha café no bule
bolinhas de gude
e quase se morria
de tanta alegria
na casa da infância
tinha música de radiola
pés de amora
insetos no jardim
colorido de jasmins
na casa da infância
tinha muitos amigos
brincar era o maior perigo
tinha goteiras na sala
penduradas nas mandalas
na casa da infância
tinha galinha assada
papo solto rolava
tinha cheiro de cozinha
sorriso largo da vizinha
na casa da infância
a primeira namorada
tinha olhos de esmeralda
tudo era motivo pra
brincadeira
até escorregar na bananeira
na casa da infância
tinha salada de frutas
tantas
recheadas de boas
lembranças
tinha o essencial
amor era o prato principal
na casa da infância
tudo valeu a pena
tinha vagalume de estrelas
céu de fazer poemas
na casa da infância
imensa gratidão
nem toda casa da infância
é assim não
Dinovaldo Gillioli
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