terça-feira, 24 de setembro de 2024

Olga Savary - poeta, poetisa não

engenho

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Suor & Cio – 1985

Carne Viva – Antologia de Poesia Erótica – Org. Olga Savary – 1986

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Anedotas na dura partida de Olga Savary ontem. Trago a memorável amizade amorosa com Carlos Drummond de Andrade, junto a um poema inédito dele para sua ''Olenka":

por Mariana Basílio 

'[...] Nunca me atraiu como homem, mas sempre mexeu comigo. Como poeta, era de tirar o fôlego. Tinha vontade de pegá-lo no colo, como uma mãe, mas ele não gostava nada dessa história. Eram outras as suas intenções [risos]. Uma vez, na fila do banco, eu disse para ele que adorava a amizade amorosa que havíamos construído. Ele ficou furioso: 

 “Amizade amorosa coisa nenhuma, isso é amor!”. 

Fiquei muda, passada. Drummond era discretíssimo, tímido, mas naquele momento se tornou um alucinado, gritava em plena fila de banco. (...) Ele me chamava de Olenka, diminutivo de Olga, em russo, e fez um lindo poema para mim, que nunca foi publicado.

 

''Miragem

 

Chegou, impressentida e silenciosa,

Com uma saudade eslava nos cabelos

E um ritmo de crepúsculo ou de rosa.

Os olhos eram suaves e eis que ao vê-los,

Outra paisagem, fluída, na distância,

Sugeria doçuras e desvelos.

No coração, agora já sem ânsia,

paira a serenidade comovida

que lembra os puros cânticos da infância.

Logo depois se foi, mas refletida

nesse espelho interior, onde as imagens

se libertam do tempo, além da vida,

 

Olenka permanece, entre miragens.''

(1955)



OLENKA

para Olga Savary

 

alga

magma

magno enigma

matéria mineral

mulher

água

 

Olenka é uma variante diminutiva do nome Olga, que tem raízes na tradição russa e eslava. Simboliza alguém que traz luz e claridade.

publicado em "A MEDIDA DO DESERTO", dentro da Coletânea RIOS, Isis Libris, 2003.

 

Tanussi Cardoso

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 A viva carne da poesia de Olga Savary


Por Alexandre Bonafim*

De como, em "Magma", Olga Savary conclama o cosmo à "festa da vontade" e atira o leitor "em direção ao desejo"
Intensa, febril, pulsante, a palavra de Olga Savary alucina-nos, atira-nos em direção ao desejo despido de medos e, por isso, docemente selvagem, perturbador; desejo que arrebata todas as fibras do ser e nos consome em alegre agonia, em acalanto de suspiros e ternuras.

Telúrica, ligada às matrizes da vida, a poesia de Olga é expressão da mais cega vontade da carne; é explosão da natureza desnuda. Eis a grandeza da poeta: dar forma, pela palavra, às pulsões vivas do corpo, aos deuses primitivos que queimam nosso âmago, que nos deixam em transe febril.

Por outro lado, a sabedoria da poeta reside, antes de tudo, no pleno domínio dos recursos líricos. Se a palavra arde em suas mãos, ganha corpo, sangue, é porque a poeta sabe dar a justa medida formal aos conteúdos. É o que podemos ver, por exemplo, em “Signo”, obra prima de seu famoso livro Magma:

A respiração de novembro e de sua véspera
(outubro) arde-me não no cérebro
nem no ombro
mas – anel de fogo – nas ancas
e nas entranhas.
Em ti eu amo os amores todos.
Eu não podia aceitar isto
mas aceito agora. A vida
não cessa, é eterno continuar.
Por mais que se queira
o ávido sangue não será saciado.
A tarde é quem está bebendo este desejo
conivente com a violência
da patada da fera amada.
E numa noite de novembro
é que fiquei pronta para a vida
ao ver o mar refletido no teu corpo
e ao meu rosto assomar todo o desastre.

O cosmo é conclamado à festa da vontade: o mar espelha-se no amado e, vice-versa, porque o desejo é total volúpia do inteiro universo. A bela metáfora “anel de fogo” desvela a pulsão dessa ardência superlativa, desse amor hiperbólico a conter todos os amores.

Magma pertence à categoria daqueles livros raros, em que quase não conseguimos encontrar um poema de vôo menor. Nesse aspecto, é obra importante, tanto tematicamente (por ser libérrimo no trato do desejo) quanto formalmente (impecável quanto ao manejo de nossa língua).

Em "Carne viva" os signos “cavalo” e “mar” formam um elo metafórico de grande expressividade. Cavalgar e nadar, pelas ondas do mar, desvelam a expressividade da ação corporal dos amantes, a volúpia do transe sexual. Mas a fúria desse movimento carnal vai além. O eu lírico não apenas está sob o cavalo, como também é escoiceado pelo animal, em bela hipérbole da delicada agressividade do amor físico:

Que é de mim sobre este cavalo em maio? Lanceando-me o abrasado flanco com o fogo de seu coice como o fervor de um jato d’água – arquiteturas ambas em fúria – este cavalo em maio é a guerra sazonada em meu corpo-recesso-de-fruta tal que tramasse nesse rio nascente a fermentação da forma absoluta, A(h) mar!

Em um dos poemas mais felizes do livro, intitulado “Venha a nós o vosso reino”, Olga define, com exímia precisão, a paixão, o estertor amoroso, em metáforas e imagens de grande beleza:

Cheios de imagens os olhos
e de silêncio os ouvidos.
Palavras: quase nada.

A cor do barro primitivo em tua pele,
terra-mãe, vinho de frutos, fogo, água,
em ti se nasce e em ti se morre.

Vais me recolhendo e recompondo
no labirinto-búzio-alto-das-coxas,
presságio de submerso jardim,

um ideal jardim em que me apresso
e tardo retardar a troca das marés
quando para ti me evado.

O que é amor senão a fome rara,
o susto no coração exposto
que com a chama ou a água devora,

é devorada, que desdenha a mente
por uma outra fome, vago pasto
água igual a fogo, fogo como lava?

Amor foi uma volta inteira de relógio mais 7 horas.
Amor: chega de gastar teu nome:
agora arde.

O imperativo do último verso faz toda ação do texto transcorrer para a vida. Em viva carne, em aberto pulso, o amor, em belo carpe diem, é conclamado à ação. E que a palavra, vigorosa, intensa, dessa grande poeta, leve seus leitores ao orgasmo não só do verbo, mas da vida em febre e desvario.

______________
Alexandre Bonafim é escritor e crítico literário

 



Antologia da Nova Poesia Brasileira
Org. Olga Savary – lançada em 1992

Pela Fundação Rio / RIOARTE

Um dos poetas presentes nesta publicação é o nosso querido amigo Ricardo Vieira Lima

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“No Brasil, poeta morre de fome.
Mas sou apaixonada por este malandro chamado literatura
e não viveria sem ele.”
Olga Savary (1933 – 2020)

*

 Olga completaria 87 anos hoje, 21 de maio de 2020.  A poeta, lamentavelmente, nos deixou na última sexta-feira, 15 de maio. Nascida em Belém do Pará em 1933, vivia no Rio de Janeiro. Filha de pai russo e mãe paraense, se orgulhava de ter uma bisavó materna de origem indígena.

Olga Savary foi poeta, tradutora, contista, romancista. Traduziu mais de 40 obras de literatura hispano-americana, incluindo autores como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Octavio Paz, Pablo Neruda, Laura Esquivel, Federico García Lorca, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e outros.  Em 1994 Olga Savary venceu o Prêmio Jabuti de Tradução, por Como água para chocolate, da escritora mexicana Laura Esquivel.

Pioneira, avançada, culta e belíssima, Olga também ficou conhecida por ter sido a primeira mulher brasileira a lançar um livro de poemas eróticos.  No Brasil, foi a segunda a publicar haikais, o primeiro foi um homem – segundo me contou, orgulhosa, ela foi “a primeira mulher a divulgar a arte do haikai no Brasil”.  Olga era poeta, e não “poetisa”, termo que ela e eu detestamos.


Em 1984 organizou a Antologia Carne Viva - 1ª Antologia de Poesia Erótica publicada no Brasil, contemplando  poesia de 77 poetas, entre eles:  Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romando de Sant´Anna, Ferreira Gullar, Antonio Barreto, Artur Gomes,  Hilda Hilst, etc. 

Carlos Drummond de Andrade foi apaixonado por ela.  Apesar de sua imensa admiração pela poesia de Drummond, Olga não correspondia à paixão do escritor mineiro.  “Drummond era meu primo, ele que descobriu isso e me escreveu para contar. Ele era apaixonado por mim, eu não.  Se bem que uma vez encontrei com ele na rua, e tive que encostar na parede, para não cair. Fiquei com as pernas bambas, não de paixão, mas de ternura”.

Antes de mergulhar na poesia intensa, selvagem e única de Olga Savary, que terei a alegria de apresentar logo abaixo, preciso compartilhar o contexto do meu último encontro com Olga no Rio de Janeiro, há poucos dias.

Nas últimas semanas estive convidando pessoalmente as personalidades escolhidas para o Conselho do projeto p-o-e-s-i-a.org, que vai ajudar poetas brasileiros em dificuldade.  Já estão no conselho Chico Buarque, Conceição Evaristo, Armando Freitas Filho, Francisco Alvim, Heloísa Buarque de Hollanda, José Carlos Capinan, Josely Vianna Baptista, Leonardo Fróes, Eliane PotiguaraRicardo AleixoEliane Robert MoraesClaudio Willer, entre outros.

Enviamos e-mails para quase todas e todos os conselheiros.  Alguns não tem e-mail, então passamos a telefonar.  Num desses telefonemas, um susto. Do lado de lá da ligação, mais gemidos e tosses do que voz. Ao tentar introduzir a ideia do projeto, e a homenagem ao Conselho de poetas, as respostas eram entrecortadas por silêncios, tossidas, lapsos de memória, gemidos de dor.

– “Estou com muito frio, estou muito fraca, só comi bananas a semana inteira…”.

– Do lado de cá: “Nossa.. Você está com febre? Tem alguém aí com você? Quer que te leve ao hospital”?

– “Não, estou sozinha, não tem ninguém aqui, estou muito fraca para qualquer coisa…”.

– “Agora está muito tarde, mas se a senhora permitir, amanhã vamos fazer umas compras no supermercado, podemos levar alimentos frescos para você se alimentar melhor… Vamos de máscara, e deixamos os alimentos na sua porta…”.

-“A minha memória está péssima, Beatriz, seu nome me diz alguma coisa, mas não estou lembrando de onde….”

– “Não se preocupe, nós não nos conhecemos pessoalmente, sua memória está boa! Li a sua poesia e suas traduções, liguei para fazer o convite e a homenagem do projeto poesia.org…”.

E assim a própria missão do projeto, de ajudar poetas em dificuldade, se impôs de maneira urgente.

No dia seguinte fomos à sua casa, Laura e eu; ela estava tossindo, sozinha, rodeada de livros. Olhou discretamente as caixas de alimentos que levamos. Perguntou quanto teria que pagar pelas compras. “Nada, fique tranquila”. Ela abriu um pequeno sorriso.

Se alguém ainda tem dúvida o que quer dizer “poeta em vulnerabilidade social” espero que esta realidade, tão brasileira e cruel, vivida pelos artistas abandonados pelo Estado, seja uma resposta eloquente o suficiente.

Já de noite, no corredor escuro do edifício, antes de entrar no elevador, vi um sorriso doce no rosto da senhora de 86 anos que dedicou sua vida à poesia.  Mostrei o livro dela que eu carregava na bolsa.  Olga fez questão de autografar e datar o período de tempo que se passou entre a publicação em 1986, no século passado, e o momento presente, em 2020.

Eu admirava muito Olga Savary, mas até então não a conhecia pessoalmente.  Do ponto inicial de um telefonema em uma noite a ela nos autorizar a levar as compras de supermercado ao seu apartamento no dia seguinte, tudo foi muito rápido.

Ao chegar no edifício com as caixas de alimentos, imediatamente alertamos o porteiro para o fato de ela estar sozinha no apartamento, e ter reclamado de não estar comendo bem…  Ao conversar com ela e tentar insistir em uma visita ao médico ou ida ao hospital, ela nos dissuadiu, dizendo com firmeza que tinha essa tosse há anos. Em seguida, nos certificamos de que a família estava ciente da fragilidade da saúde da escritora: “sim, meu genro me telefonou, ele e minha filha estão sabendo”.

Mesmo assim, avisei o grupo de poetas envolvidos com o projeto na esperança de que outras pessoas do Rio de Janeiro, que talvez tivessem intimidade com Olga, pudessem intervir.  Recebi algumas mensagens e amigos dela foram rapidamente avisados sobre a situação.  Uma semana se passou, e então chegou a notícia do seu falecimento em Teresópolis, onde sua filha reside. Mais uma grande artista brasileira se foi.

Neste único encontro presencial, Olga, mesmo fragilizada, mostrou toda a força de sua personalidade. Quando perguntei se aceitaria integrar o Conselho de poetas, ela olhou bem nos meus olhos e inesperadamente, com a voz forte e firme, disse: “aceito, com orgulho!”.  Mostrando-se independente e altiva, pediu para não ser tratada de maneira diferente ou “especial”. Perguntou o que precisaria fazer. Respondi que precisávamos de uma foto dela, e mostrei a página do projeto onde já haviam imagens dos primeiros Conselheiros.

Olga elogiou a beleza do projeto, e disse: “não quero uma foto minha feia, faço questão de ser lembrada jovem e bonita!”, reclamando que hoje em dia pegam qualquer imagem na internet e publicam.  Então imediatamente abri o celular e procurei fotos de Olga, vi uma dezena delas, e escolhi a que me pareceu mais forte.  Bem humorada, me olhou e disse: “esta é a minha foto preferida, você foi certeira! Confio em você, Beatriz, você conhece a beleza, e isso é fundamental para a poesia. É com essa imagem que quero ser lembrada”.  E arrematou: “toda artista tem sua persona pública, você não acha que eu tenho o direito de ser representada pela imagem que melhor me traduz?”.

Essa é Olga Savary, a bela mulher eternizada nesta foto, a poeta gigante que escreveu os magníficos poemas a seguir. Muito triste ainda, com aquela dor que não para de doer, respiro fundo e pergunto ao mar, que ela tanto amava: por que quis o destino que fosse eu a ouvir o último pedido da poeta? Olga, querida, nunca te esqueceremos.

***

Acomodação do desejo III

Deito-me com quem é livre à beira dos abismos
e estou perto do meu desejo.

Depois do silêncio úmido dos lugares de pedra,
dos lugares de água, dos regatos perdidos,
lá onde morremos de um vago êxtase,
de uma requintada barbárie estávamos morrendo,
lá onde meus pés estavam na água
e meu coração sob meus pés,

se seguisses minhas pegadas e ao êxtase me seguisses
até morrermos, uma tal morte seria digna de ser morrida.

Então morramos dessa breve morte lenta,
cadenciada, rude, dessa morte lúdica.

***

Além de mim

Quero apenas
Além de mim, quero apenas
essa tranqüilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.

Além de mim
– e entre mim e meu deserto –
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto de meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.

***

Amanhã

Se devoras teus sonhos
quando se ensaiam apenas
e secamente represas
essa linguagem de flores
e teu desejo de asas
que restam subterrâneas,
quem serás tu, depois
do grande sono, amanhã?

Não te abandones um só momento
sou inconstante como a nuvem
sou mutável como o vento.
Não te dês inteiro um só momento
porque um dia te quererás de volta
e levarás somente um fragmento.

***

Auto despedida

Há algo nas manhãs que não entendo agora
e a um grito de minhas pernas não atendo.
Ainda depois da noite, noite me espia
e sonho dúvidas enormes e imóveis
como a imobilidade das aranhas.
Tão pouco tempo – e tenho de deixar-me
e queria nunca ter de repartir-me.
Começa a raiva da saudade
que inventei vou ter de mim

***

Sextilha Camoniana

Daqui dou o viver já por vivido.
Quero estar quieta, sozinha agora,
igual a uma cobra de cabeça chata,
ficar sentada sobre os meus joelhos
como alguém coagulado em outra margem.
Daqui dou o viver já por vivido

***

Comunhão

Por que escrevo?
Porque sou pouca e
mínima embora
vária, porque não
me basto, escrevo
para compensar a
falta, porque não
quero ser só raiz e
haste e preciso do
outro para dar
sombra e fruto.
David

Não sendo bicho nem deus
nem da raiz tendo a força
ou a eternidade da pedra,
o poeta nas palavras
põe essa força de nada:
sua funda é o poema.

***

Cerne

Nada a ver com a fonte
mas com a sede

Nada a ver com o repasto
mas com a fome

Nada a ver com o plantio
mas com a semente

 ***

Pitúna-Ára

Exilada das manhãs,
de noite é que me visto.

Caminho só pela casa
e o viajar na casa escura
faz soar meus passos mudos
como em floresta dormida.

Me vêem, eu que não me vejo,
as coisas — de corpo inteiro.

O real está me sonhando,
o real por todo lado.
Não sou eu que vivo o medo;
em seu tapete de sombras,
por ele é que sou vivida.

Aonde me levam estes passos
que não soam e que não vão:
às armadilhas do vôo
como a paisagem no espelho
espatifado no chão?

O escuro é tanque de limo
para minha sombra escolhida
pela memória do dia.
Deixo o mel e ordenho o cacto:
cresço a favor da manhã.

***

Iraruca

Destino é o nome que damos
à nossa comodidade,
à covardia do não-risco,
do não-pegar-as-coisas-com-os-dentes.

Quanto a mim,
pátria é o que eu chamo poesia
e todas as sensualidades: vida.

Amor é o que eu chamo mar,
é o que eu chamo água.

***

Mapa de esperança

Vinha pisando sobre toda a praia,
o sangue quieto — ou quase quieto —,
os pensamentos leves como espumas
e os cabelos soltos como nuvens.

Trágica como princesa de elegia,
meu estandarte é o desespero,
minha bandeira, indecisão.

Ainda assim, alegria, te festejo.

Beatriz Azevedo é poeta, compositora, multiartista. Doutora em Artes, estudou música no Mannes College of Music Nova York e dramaturgia na Sala Beckett em Barcelona. Autora de Antropofagia palimpsesto selvagem (Cosac Naify), Abracadabra (Selo Demônio Negro) e outros.

 

Fonte: Revista Cult

https://revistacult.uol.com.br/home/olga-savary-poeta-nao-poetisa/


Há 4 anos morria Olga Savary, a mãe do pasquim

Olga nasceu em Belém do Pará, no dia 21 de maio de 1933 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 2020.

Por Ediel Ribeiro

Jornalista, cartunista e escritor

Mãe só tem uma.

Pai, ele teve vários: Tarso de Castro (editor), Jaguar (editor de humor), Sérgio Cabral (editor de textos), Carlos Prosperi (editor gráfico) e Claudio Ceccon.

O velho jargão, “mãe só tem uma”, ainda que em desuso, serve muito bem para ilustrar a história do semanário “O Pasquim” - depois apenas “Pasquim”, sem o artigo.

Reza a “lenda”, ou a “história” ( “se a lenda é mais interessante que a história, imprima-se a lenda”, ensinou o “historiador” do Oeste americano John Ford, em “O Homem Que Matou o Facínora”) , que a fundação do “Pasquim” aconteceu mais ou menos assim:

Com a morte do humorista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Tarso de Castro, que na época fazia um baita sucesso com sua coluna no jornal "Última Hora", foi convidado por Murilo Pereira Reis - dono da Distribuidora de Imprensa - para editar o jornal “A Carapuça”.

Tarso de Castro não aceitou, preferindo criar um novo tablóide. “Vamos fazer um jornal marginal” - disse ele.

Tarso convidou Jaguar e Sérgio Cabral para a empreitada. Os primeiros a se juntar ao grupo foram Carlos Prosperi e Claudio Ceccon, o Claudius.

Millôr Fernandes também foi convidado para participar de “O Pasquim”, por Tarso, mas recusou — chegou a escrever um artigo prevendo o final da publicação em poucos números.

Tarso não deixou barato: “Coisas que se explicam pelo fato de que Millôr considera insuportável qualquer coisa que dê certo e que não o tenha como autor”. Ziraldo também preferiu ficar apenas como colaborador.

Assim, as negociações resultaram numa sociedade por cotas para dirigir o jornal: 50 por cento para Murilo Reis e 50 por cento divididos em cotas iguais para Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prosperi e Claudius.

Até aí, tudo bem. O que a “lenda” ou a “história” dos “meninos” esqueceu de contar é que havia outro fundador (a): Olga Savary.

Olga era casada com Jaguar, com quem teve dois filhos - Flávia Savary , também escritora e Pedro, morto em 1999, aos 41 anos. Participou ativamente das reuniões de criação do tablóide - que acontecia em sua casa ou nos botecos de Ipanema e Leblon.

Participava e editava as famosas entrevistas. Criou a seção “Dicas”, a mais lida do jornal. Foi a primeira mulher a dar preços e sugestões de restaurantes, tendência depois seguida por quase todos os jornais.

Na década de 70, criou a editora Codecri, ligada ao semanário.

No entanto, o livro “O Som do Pasquim”, uma coletânea de entrevistas publicadas no tablóide, é a única publicação que cita o nome de Olga Savary, ligando-a ao semanário. Na página 86, ela faz “uma” pergunta a Waldick Soriano, numa entrevista que fizeram com o cantor, na Freguesia, Ilha do Governador.

Olga Savary é uma das mulheres mais inteligentes do Brasil. Nascida em Belém do Pará, em 1933, vivia no Rio de Janeiro. Filha de pai russo e mãe paraense, se orgulhava de ter uma bisavó materna de origem indígena. Poetisa, escritora, ensaísta, tradutora e jornalista. Ganhou trinta e seis prêmios nacionais de literatura (entre eles dois Jabutis). Foi tradutora de Pablo Neruda, Júlio Cortázar, Jorge Luis Borges, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa. Foi, ainda, a primeira mulher a publicar um livro de poesias eróticas e escrever e traduzir haicais (a sintética poesia japonesa).

Festeira, foi a primeira mulher a frequentar bares, antes só frequentados por homens, e foi, também, criadora do “Bloco de Ipanema”, que resultou depois na “Banda de Ipanema”.

Assim, por mais que omitam seu nome nos registros, ficará na "história" e na "lenda" como uma das criadoras do ‘Pasquim’”.

É verdade que mais na lenda do que na história — porque ela, afinal, é só a mãe.

 

Fonte: Brasil 247

https://www.brasil247.com/blog/ha-4-anos-morria-olga-savary-a-mae-do-pasquim


Olga Savary (Belém21 de maio de 1933 – Teresópolis15 de maio de 2020) foi uma escritorapoetacontistaromancista, crítica, ensaísta, tradutora e jornalista brasileira.[1]

Biografia

Olga nasceu em Belém, no Pará, em 1933. Era filha única do engenheiro eletricista russo de ascendência alemãfrancesa e sueca Bruno Savary e da paraense neta de indígenas Célia Nobre de Almeida.[2] Enquanto criança, absorveu fortemente os elementos da cultura de sua terra natal, transmitidos pela família materna. Até os três anos, teve a vida dividida entre Belém e Monte Alegre, no interior do Pará, cidade de seus avós maternos. Em 1936 seu pai, por motivo de trabalho, leva a família para o Nordeste, onde fixa moradia em Fortaleza.[3][4]

Em 1942, os pais de Olga se separaram e ela foi para o Rio de Janeiro onde passou a morar com um tio materno, começando a desenvolver suas habilidades literárias. Aos onze anos passa a redigir um jornalzinho, incentivada por um vizinho, para quem escrevia, sendo remunerada por isso. Sua mãe, no início, recriminava a vocação da filha, pois queria que ela se dedicasse à música, o que Olga detestava. Nesse tempo, ela começa a escrever e a guardar seus escritos em um caderninho preto, que sempre era deixado com o bibliotecário da ABI para que sua mãe não o destruísse.[4]

Sua convivência com a mãe se torna difícil ao ponto de Olga, aos 16 anos, pensar em ir morar com o pai, desistindo por achar que ainda estaria muito perto da mãe. Contudo, aos 18 anos, Olga volta a Belém, indo morar com parentes e estudando no Colégio Moderno. Posteriormente decide voltar para o Rio, onde começa a alavancar sua carreira de escritora.[4]

Participou do filme de 1968, 'Edu, Coração de Ouro.[5] Correspondente de diversos periódicos no Brasil e no exterior, organizou várias antologias de poesia. Sua obra também está presente em diversas antologias brasileiras e internacionais, como a Antologia de Poesia da América Latina, editada nos Países Baixos, em 1994, com 18 poetas — inclusive dois prêmios NobelPablo Neruda e Octavio Paz.[6]

Foi poeta, como gostava de ser chamada, contistaromancistacríticatradutora e ensaísta. Traduziu mais de 40 obras de mestres hispano-americanos,[1] como BorgesCortázarCarlos FuentesLorcaNerudaOctavio PazJorge Semprún e Mário Vargas Llosa, e também os mestres japoneses do haicai - BashôBuson e Issa.[6]

Foi membro do PEN Club, associação mundial de escritores, vinculada à Unesco, da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI - Associação Brasileira de Imprensa e do Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica. Foi presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Rio de Janeiro em 1997-1998. Foi também conhecida por ter sido a primeira mulher brasileira a lançar um livro inteiramente dedicado a poemas eróticos.[6]

Colaborou com vários jornais e revistas do Brasil e do exterior. Teve também alguns de seus poemas musicados pelo compositor e intérprete Madan, Pedro Luiz das Neves (1961 - 2014), como "Çaiçuçáua", "Pele" e "Geminiana".[6]

Morte

Olga morreu em Teresópolis, 15 de maio de 2020, por causa de uma parada cardíaca, devido à COVID-19.[4][7]

Premiações

A escritora acumulou vários dos principais prêmios nacionais de literatura, entre eles o Prêmio Jabuti de Autor Revelação,[1] pelo livro Espelho Provisório, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (1971), o Prêmio de Poesia, pelo livro Sumidouro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (1977), e o Prêmio Artur de Sales de Poesia, concedido pela Academia de Letras da Bahia pelo livro Berço Esplêndido (1987).

Livros publicados

·         1970 - Espelho Provisório (poemas)

·         1977 - Sumidouro (poemas)

·         1979 - Altaonda (poemas)

·         1982 - Magma (o 1º livro editado por uma mulher só com poemas eróticos)

·         1982 - Natureza Viva (poemas)

·         1986 - Hai-Kais (poemas)

·         1987 - Linha d'água (poemas)

·         1987 - Berço Esplendido (poemas)

·         1989 - Retratos (poemas)

·         1994 - Rudá (poemas)

·         1994 - Éden Hades (poemas)

·         1996 - Morte de Moema (poemas)

·         1996 - Anima Animalis (poemas)

·         1997 - O Olhar Dourado do Abismo (contos)

·         1998 - Repertório Selvagem (poesia reunida


Fonte: wikipedia

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Olga Savary - poeta, poetisa não

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